No Brasil é o Rabo quem puxa o cachorro!


Por Falcão 66


                Sou Brasileiro, pai, filho, marido. Sou cidadão, não sonego impostos (apesar de ser massacrado pela carga tributária), sigo e respeito as leis do meu país, nunca cometi crimes. Meus vizinhos não têm reclamações ao meu respeito ou de minha família. Meus filhos respeitam os mais velhos, não falam palavrões, não pegam o que não é deles. Os ensinamentos que recebi dos meus pais, que nunca tiveram muito na vida, são os meus mandamentos, e o que tento ensinar aos meus filhos. Mas tenho um enorme “defeito” nesse país de valores inversos: SOU POLICIAL.

                Nunca me ofereceram uma faculdade gratuita por servir ao meu país, nem aos inúmeros policiais mortos ou seus familiares. No entanto essa semana li que o MST recebeu 60 vagas exclusivas para que que seus militantes cursem DIREITO na Universidade Federal do Paraná – UFPR, pago com o meu e o seu dinheiro. Talvez meu filho devesse se filiar ao MST… Não, prefiro que ele mantenha a dignidade! Já estive em manifestações comandadas pelo MST. Sempre ofendem a Polícia. Em uma dessas ocasiões atearam fogo a um carro de reportagem que eles mesmos chamaram para noticiar o protesto, e diga-se de passagem, nos acampamentos do MST pode-se ver carros estacionados que eu como cidadão honesto não tenho dinheiro para comprar, mas eles têm… talvez por isso não tenham terra, pois gastaram todo seu dinheiro com carros importados. (Saiba mais: clique aqui)

        Não é fácil ser policial em um país onde o marginal é romantizado e “vitimizado” e a polícia quem é marginalizada pela sociedade. No Brasil vivemos uma surpreendente inversão de valores. O que aconteceu com o certo e o errado? Onde erramos para que o mal vencesse o bem? Quando deixamos de valorizar aqueles que dão a vida por nós?

               Estamos na era do “politicamente correto”. Não podemos nos referir aos marginais como “vagabundos”, pois somos institucionalmente repreendidos. Agora o “correto” é se referir como: “Infrator social”, “transgressor da lei”, “cidadão infrator”. Quando vamos acordar e parar de dar nomes bonitos a coisas feias para fingir que tudo está indo bem?

             Quando eu era criança todos os meus amigos queriam ser bombeiro ou policial quando crescesse. Quando essas profissões deixaram de ser honradas para a nossa sociedade?

                Tenho 10 anos de polícia, sendo 7 em “Operações Especiais”. No Rio de Janeiro-RJ, presenciei muita coisa, participei de muitas operações, troquei tiros com marginais em muitas ocasiões. Sobrevivi a todas. Eles nem sempre. Nessa profissão perdi amigos, fui a muitos funerais de policiais, e nunca vi nenhum deles sendo tratado pela sociedade brasileira como heróis. Nunca vi militante de direitos humanos em nenhum enterro de policial. Tudo que vi foram famílias de homens bons devastadas. Homens que morreram pela garantia dos nossos direitos, ou seja, homens que deram a vida por nós.

                Eu sempre soube que minha vida era descartável para a sociedade, um estranho conformismo esse. Todas as vezes que saí pro trabalho sabia que poderia não voltar mais para casa. Depois que casei, sabia que a qualquer momento poderia deixar uma viúva. Depois que tive filhos, sabia que eles poderiam ficar órfãos de pai. Mas eu sempre tive a certeza que minha vida somente teria um fim quando fosse da vontade de Deus e que valia a pena lutar pelo meu país. Ser policial é a minha vocação; defender os indefesos me dá uma satisfação indescritível, sensação de que estou ajudando a mudar a sorte do meu povo.

                Uma vez ouvi que para que o mal vença, basta que os homens bons nada façam, e essa é a mais pura verdade. O problema é que o caminho é longo, pois nós, os homens bons, somos muito poucos.

                Na minha vida como policial meu coração se endureceu muito; minhas emoções passaram a ser mais controladas. Sei que passei a ser mais frio. Cada ano na profissão nos torna mais endurecidos. No início nos assustamos com a banalização da vida, com os crimes absurdos, com a violência dos bandidos e lutamos com toda a força para prender quem quer que cometa qualquer crime. Com o passar do tempo chegamos à conclusão que certas prisões “não valem a pena”. Você passa horas na delegacia registrando a ocorrência e, pela fragilidade da nossa legislação penal, o criminoso sai antes de você da delegacia, ou passa poucos dias na cadeia, o que deixa os policiais frustrados. E ainda temos que comparecer ao fórum para repetir ao juiz tudo aquilo que já dissemos ao delegado ao apresentar a ocorrência. Normalmente essas audiências caem na nossa folga (“lei de murphy”). Nossa legislação processual gera burocracia excessiva e crimes impunes.

                Com o tempo você percebe que precisa se especializar e aprimorar suas técnicas se quiser ficar na linha de frente do combate ao crime e continuar vivo. Por isso, fiz alguns cursos em diversas instituições policiais e militares, tais como Estágio de Aplicações Táticas do BOPE/RJ, Curso de Operações Táticas Especiais e Curso de Operações Aéreas, ambos da CORE/RJ, Combatente de Montanha, Paraquedista, Salto Livre Operacional, Caçador, “Sniper” militar, todos pelo Exército Brasileiro, e Curso de Tiro Tático de precisão, “Sniper”, pela Força Aérea Brasileira. Ainda fiz alguns outros, de progressão em área de risco, dentre outros de menos renome, porém não menos importantes.

                Não vou aqui relatar as grandes Operações que participei com minha equipe, ou os “donos de favela” que tiramos das ruas, ou ainda detalhar os diversos confrontos armados em que estivemos envolvidos. Prefiro relatar fatos aos quais não estamos habituados como policiais no Brasil. Fatos que me causaram estranheza, que chegaram a me emocionar como poucas vezes em minha carreira. Fatos simples e que deveriam ser parte do cotidiano de nossa nação, mas não são.

                O primeiro fato ocorreu alguns anos atrás, quando um colega policial visitou os Estados Unidos da América, e resolveu ir ao cinema com a esposa. Ao chegar no caixa para comprar sua entrada para o cinema, abriu sua carteira com o brasão da sua instituição policial aqui no Brasil, popularmente conhecida entre os policiais como “me mata”, pois ela torna um policial facilmente identificável durante um assalto, e como todos sabem, policial identificado normalmente é assassinado por marginais. Pois bem, o atendente viu o brasão com as inscrições da polícia e perguntou se ele era policial. O colega então respondeu que era policial no Brasil. O atendente, então, devolveu o dinheiro pro colega e disse que policial não pagava. O colega insistiu que ele era policial no Brasil, e então o atendente respondeu: “Eu sei, mas aqui, qualquer pessoa que arrisca sua vida pelos outros é um herói, não importa o lugar do mundo, e herói não paga”. O colega chorou. Normal, eu também me emocionei. É inimaginável ser tratado assim no Brasil. Já nos acostumamos com o tratamento que nosso próprio povo nos dá, como se nossa vida fosse descartável e não fizéssemos mais que nossa obrigação em arriscar a vida, pois nosso salário cobre esse risco, e se morremos em serviço, fazia parte dos “riscos da profissão”. Mas me responda com sinceridade: você falaria isso se o seu filho fosse policial??? Realmente somos um povo hipócrita!
 O segundo fato ocorreu essa semana, também nos Estados Unidos, nos jogos mundiais das polícias (“World Police and Fire Games”). Durante uma prova de ciclismo um dos atletas caiu, vindo a derrubar diversos outros que vinham atrás. Um desses atletas era um policial civil de Brasília-DF, que bateu a cabeça contra uma mureta e não resistiu aos ferimentos. Na saída do corpo dele do hospital houve um cerimonial, que contou com a presença de diversos policiais e do chefe de polícia local, os quais prestaram homenagens, dando ao policial brasileiro morto tratamento de herói, mesmo sendo ele estrangeiro. Gostaria de ressaltar que os policias da Delegação Brasileira estão lá representando seu país, sem diárias ou passagens custeadas pelo governo brasileiro. É isso mesmo! Eles bancaram a viagem do próprio bolso para representar seu país!
Por fim, o governo brasileiro, através do Itamaraty, disse que o corpo do policial é de responsabilidade da família. E quem, no fim das contas, custeará o traslado do corpo do policial para o Brasil será a Polícia Americana. O que mais me impressiona na atitude do governo brasileiro é que quando se tratava de um traficante internacional de drogas, morto por ter descumprido as leis de um país rígido, o governo custeou o traslado de seu corpo, inclusive com lamentos presidenciais.

                Resumindo, este fato nos deixa claro que para o governo brasileiro um traficante é mais importante que um policial. Sinceramente, espero que um dia o Brasil trate seus policiais como os Americanos, e trate seus traficantes como os Indonésios.

                FORÇA E HONRA

*Falcão 66 (pseudônimo)

FONTE:http://karinajornalista.com/

Agradeço a Karina jornalista por permitir a reprodução deste artigo.

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